É impossível não acreditar no Pai Natal: afinal, desde praticamente o dia 30 de Agosto que o vemos a descer de todas as janelas, pendurado em todas as ruas, a orientar o trenó e mais as renas no átrio de todos os centros comerciais.
Se pensarmos bem, o Pai Natal tem uma missão sociológica: ritualmente, quem dá recebe algo em troca. É uma prova de igualdade. Dar sem receber é uma prova de amor (pensamos nós) mas é também uma prova da dependência do outro: e o Pai Natal vem precisamente suavizar essa violência simbólica.
O problema é quando se acredita a sério para lá da idade em que a fantasia e a realidade se confundem. Há idades em que se 'engole' o homem das barbas a descer pela chaminé com a naturalidade com que se engolem sapatos de cristal e fantasmas debaixo da cama. Mas com o tempo, manter a lenda vai ficando cada vez mais difícil: e mais inútil. À medida que a criança cresce e o seu cérebro se desenvolve, as fronteiras entre fantasia e realidade vão ficando mais nítidas. É aí que começam as dúvidas. E é aí que, tão naturalmente como entrou a fantasia, deve entrar a verdade.
O problema são as resistências paternas. A maioria dos pais gagueja e resiste e fabrica 'provas' e esperneia e faz tudo para provar que o Pai Natal existe, como se temesse que a criança não os respeitasse quando descobrisse que, raios!, o traste do barbudo afinal é um embuste! Há quem, em desespero, mantenha a 'fé'. São as mais variadas versões de: 'Meu filho, todos os 30 ateus da tua turma estão errados, diz-te a tua mãezinha que o Pai Natal existe sim, só que este ano o trenó tem um pequeno problema na fuselagem e não vai poder trazer-te a consola'.
Mas o desengano é fatal. Ou é um irmão mais velho numa cena de despeito. Ou é um colega que se ri na cara do inocente. Ou é uma voz debaixo das barbas brancas que se revela de súbito demasiado familiar...
Activa