Embora os tempos modernos ofereçam novos recursos para a criança ter acesso às histórias infantis, nada derruba a magia da antiga fórmula “era uma vez…”
...que suavemente chega aos ouvidos de uma criança, através dos lábios dos pais inspirados nos contos de fadas.
...que suavemente chega aos ouvidos de uma criança, através dos lábios dos pais inspirados nos contos de fadas.
A magia e o encantamento das crianças devem ser alimentados através dessa linguagem lúdica que fala diretamente à sua alma, proporcionando-lhe conforto e esperança.
Os contos ajudam a criança a elaborar melhor os sentimentos negativos tão comuns na primeira infância, como o medo, a frustração, o abandono, a rejeição, entre outros.
Nos contos, a bruxa, o lobo, o pirata e outros personagens maus, representam sentimentos ruins, são um arquétipo desses sentimentos, portanto querer que estes personagens morram não é atitude de violência mas a necessidade de acabar com estes sentimentos ruins. É preciso lembrar que nas histórias a morte não é violência, é o símbolo da transformação que vai ajudar a criança a elaborar os sentimentos ou sensações que a incomodam.
Não devemos nos preocupar quando a criança festeja a morte desses personagens, eles representam seus medos e esta é a forma que ela tem de vencê-los ou elaborar estes sentimentos que a angustiam.
A magia dos contos passa para a criança a “fórmula da felicidade”, ajudando-a perceber que ela não é a única a sofrer, pois a criança tem um complexo de inferioridade com relação aos adultos muito presente nessa fase. Para a criança os adultos constituem um mundo dos gigantes. Por esta razão devemos nos colocar no nível dos olhos das crianças ao falarmos com elas.
Os contos mostram que existem os bons e os maus, deixando transparecer valores sempre atuais. Reconhecer a dor e aceitá-la é um meio de superá-la e assim ser feliz.
A força plasmadora que atua nos contos é a fantasia, mas ela o faz de tal maneira que as imagens por ela criadas revelam uma sabedoria objetiva. Nunca se deve procurar uma explicação meramente intelectual, seria como tirar o matiz colorido das asas de uma borboleta.
Os pais ou professores devem mergulhar nas imagens dos contos e escutar o que eles lhes murmuram. Quanto menos especulações e análises, tanto mais impressionante será o modo como irão contá-los.
Quando se narra um conto de fadas, tudo depende da atitude e mentalidade de quem faz a narração. Se os contos forem narrados com pleno discernimento de seu fundo espiritual, as crianças não confundirão a “madrasta má”, que toma conta da alma, com uma madrasta (pessoa real) que pode ser a melhor das mães, sem qualquer traço característico das madrastas dos contos de fadas. Saberão que bruxas não se encontram na vida cotidiana, nem os animais que falam, nem os feiticeiros, os gigantes e anões.
É sinal de uma incompreensão crassa, tanto do conto quanto da alma infantil, narrar a história do chapeuzinho vermelho de maneira que o lobo não coma nem a menina nem a avó, mas se regale tomando vinho e comendo bolo, junto com elas e o caçador. Isto significa matar o sentido profundo do conto.
As crianças estão abertas para ouvi-los, pois existe grande afinidade entre ambos. Elas ainda não amadureceram para a consciência intelectual e aguda dos adultos, a percepção sensorial é tal que a criança entende perfeitamente ser o leão um príncipe encantado, pois ela capta algo daquela espiritualidade da qual provieram as criaturas terrestres e que nelas atua.
A existência de coisas ou seres encantados é perfeitamente aceitável para a psique infantil, já que a criança muitas vezes se sente como que encantada e afastada do mundo real.
Por meio das histórias podemos trabalhar sentimentos e sensações muito presentes nas crianças como a ingenuidade, a feiúra, o medo, a inexperiência, a insegurança, a rejeição, a culpa, a dor.
Ingenuidade: Branca de Neve e Pinóquio (acreditam no personagem do mal)
Feiúra: Patinho Feio (um irmão mais bonito do que o outro)
Medo: Chapeuzinho Vermelho, Aladim (medo de estranhos)
Inexperiência: Os Três Porquinhos (o irmão mais velho sabe tudo)
Insegurança: Alice no Pais das Maravilhas, Mogli, Peter Pan (sentir-se inseguro diante de situações novas)
Rejeição: Cinderela
Culpa: Rei Leão, Pinóquio
Dor: A Pequena Sereia
Abandono: João e Maria (sentimento de abandono pela ausência dos pais)
Por meio das histórias também podemos trabalhar o conceito de finitude, pois tu
do na vida tem um começo, meio e fim. As crianças precisam saber que as pessoas não são como os personagens dos desenhos ou jogos eletrônicos, que nunca morrem. Diante de tanta tecnologia, nunca os contos foram tão importantes e necessários na vida da criança como hoje.
Outro conceito que o conto ajuda a criança identificar e que carece de reconhecimento é a ética. É através dos contos que a criança consegue discernir o certo do errado, o que pode e o que não pode fazer, enfim, o reconhecimento do sim e do não.
É muito comum a criança se identificar com um dos personagens de um conto e se agarrar a ele, querendo repetidas vezes ouvi-lo.
Os contos de fada sobreviveram ao tempo justamente porque são necessários por conterem ensinamentos que falam à alma da criança, falam de valores imutáveis, caso contrário já teriam desaparecido, apagados pelo tempo e caídos no esquecimento.
Por isso, os pais devem usar e abusar dos contos. Só assim poderão sonhar com um final feliz para nossa sociedade tão carente dos verdadeiros valores.
Maria de Loudes Barduco