segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Desenvolvimento da linguagem infantil








A evolução da linguagem da criança é um processo gradual e não é igual para todas. Fique a conhecer aqui os processos e etapas desta aprendizagem.



 


O desenvolvimento da linguagem é um processo muito complexo. Falar implica ouvir e processar o que se ouve, replicar utilizando as palavras adequadas e fazendo os movimentos articulares certos utilizando músculos e tendões específicos e regulando a capacidade respiratória. Para falar temos de pensar, construir frases, escolher as palavras, recorrer a símbolos para expressar o nosso pensamento, tudo numa fracção de segundos, de modo a partilhar sentimentos, ideias, valores, factos e pensamentos. A evolução da linguagem, tal como acontece com o desenvolvimento da criança noutras áreas, é um processo gradual e não é igual para todas – umas têm um ritmo mais lento, outras mais acelerado. 



Por volta da 3ª semana de vida o bebé começa a esboçar o sorriso dirigido aos pais, sabendo que este é o melhor meio de captar a sua atenção.


1 mês - o bebé já consegue fixar o rosto do pai ou da mãe por longos períodos ficando cada vez mais interessado até esboçar um sorriso aberto. Se for correspondido com outro sorriso, tenderá a prolongá-lo. Já balbucia, emitindo breves sons de contentamento e segue os sons e a face.


2 meses - começa a palrar e a produzir vocábulos em resposta à estimulação quando brincam com ele. Chora quando quer chamar a atenção, começa a ser manipulador pois sabe que os pais respondem prontamente.


4 meses - geralmente já ri com intenção em resposta a estímulos que aprecia e chora em caso contrário. Começa a jogar com as suas novas aquisições, chora deliberadamente para chamar a atenção e após um compasso de espera volta a chorar com mais intensidade - é o chamado processo de causalidade: se tiver determinado comportamento sabe que obterá o resultado pretendido.


6/8 meses - já imita, tentando vocalizar com entoação, usa algumas consoantes: ma-ma, pa-pa, da-da, sem significado. Responde ao nome, grita para chamar a atenção dos adultos.

9/12 meses - começa a entender o “não”, usa palavras como mamã ou papá já com significado,


12 meses - já revela um entendimento do que ouve. Compreende ordens simples como “vai dar ao papá” ou “ vai buscar um brinquedo”, mostrando que sabe o que lhe estamos a dizer quer obedecendo quer mostrando claramente que não quer fazê-lo. Pode utilizar a linguagem gestual para se expressar, aponta para o que quer, acompanhando com gestos o seu discurso, mas muito poucas palavras serão perceptíveis - eventualmente já diz mais alguns monossílabos, tais como “dá”, “olá” ou “não”.


15 meses - a criança é ainda muito trapalhona a falar, compreende tudo e faz-se entender quer por palavras quer por gestos, pode utilizar alguns substantivos isolados. Fala com entoação e ritmo, mesmo que imperceptível pelos adultos e começa a mostrar frustração por não conseguir conversar ao ritmo que desejaria.


18 meses - utiliza várias palavras: bola, cão, nomes de algumas pessoas; identifica algumas partes do corpo; executa gestos mais complexos para se expressar.


2 anos – já utiliza alguns verbos e adjectivos como “é bonito” ou “quero aquilo”. Compreende ordens complexas sendo capaz de cumprir 2 a 3 ordens em sequência “vai buscar os sapatos e vai dar ao pai que está na sala”.

Já começa a utilizar o “eu”. Mesmo que ainda não fale, se a criança consegue expressar-se por gestos e utilizando a linguagem corporal então é porque já consegue descodificar o que lhe é dito. No fundo ainda que a maioria das expressões que usa sejam imperceptíveis, a compreensão do discurso mostra que o desenvolvimento se está a processar. Algumas crianças que já falam mas não conseguem expressar-se bem utilizam a linguagem gestual para dizerem o que querem.


3 anos – constrói frases mais elaboradas com 3 ou mais palavras. Já entende os contrários – cima/baixo, dentro/fora, pequeno/grande. Já consegue utilizar o plural e por vezes o feminino/masculino. Já sabe o nome e a idade. Começa a questionar-se sobre o “porquê” das coisas.


4/5 anos – discurso mais elaborado, constrói frases mais elaboradas, expressa-se bem, utiliza os tempos verbais adequados. Pode eventualmente revelar ainda dificuldades no que se refere à articulação e/ou dicção.


Quais os sinais de alarme para uma eventual perturbação da linguagem?

À semelhança do que se verifica relativamente ao desenvolvimento psicomotor da criança, a aquisição da linguagem é um processo dinâmico e gradual e cada criança tem o seu ritmo. No entanto, existem alguns sinais que nos podem alertar para uma eventual perturbação da linguagem. Algumas aquisições já deverão ter sido processadas até determinada idade, devendo o médico assistente estar atento a fim de investigar se existe algum problema. São exemplo de alguns desses sinais de alarme:



1 mês – o bebé não fixa a cara humana.

2 meses – não reage aos sons nem segue a face ou a voz.
4 meses – não se vira na direcção do som.
6 meses – deixou de palrar ou de reagir aos sons. Não emite sons.
9 meses – manifesta uma atitude apática, não reage à presença de estranhos, não utiliza sons como dá-dá/pá-pá/mã-mã. Não reage ao nome.
12 meses – não interage nem estabelece qualquer contacto com adultos ou outras crianças.
15 meses – não entende ordens simples, não percebe o que lhe é dito.
18 meses – não diz nenhuma palavra nem dá sinal que entenda ou tenta fazer-se entender.
2 anos - Ainda só palra, não junta palavras, não se faz entender.
3 anos – não faz frases simples, a fala é imperceptível, não faz perguntas.
4/5 anos – omite sons ou sílabas. Substitui sons por outros sons.

Como analisar um atraso da linguagem?


É muito habitual os pais manifestarem alguma preocupação e ansiedade se o seu filho não diz nenhuma palavra por volta dos 12 a 15 meses de idade. Será que poderá significar algum atraso? Mais importante do que falar é ter a noção se a criança entende e se faz entender, se interage com os outros ou se pelo contrário se isola, não manifestando qualquer emoção ou entendimento na presença do adulto e/ou de outras crianças. 

Por vezes a avaliação da linguagem na consulta de rotina é um pouco difícil nomeadamente se a criança é tímida, pelo que se torna necessário fazê-la de acordo com as informações fornecidas pelos pais.
Podem existir variadas razões para que exista um atraso na fala e há algumas questões que é importante colocar aos pais - costumam falar com a criança? tentam que ela fale ou satisfazem os seus desejos mesmo antes de ela sentir necessidade de verbalizar? Tentam fazer de conta que não a entendem procurando que ela se expresse? Se a criança consegue compreender e usar a linguagem corporal para se fazer entender e se tem a facilidade das pessoas a entenderem, torna-se preguiçosa para falar, adopta como que uma atitude de negativismo. Não precisa de falar para obter o que pretende já que existe uma certa superprotecção por parte dos pais ou adultos com quem convive diariamente. Normalmente quando existem irmãos mais velhos a criança não tem necessidade de falar porque estes a entendem e falam por ela - os pais devem perceber de que modo o filho mais novo comunica com os irmãos, sendo que em grande parte dos casos predomina a linguagem gestual. 
Os filhos de pais bilingues geralmente começam a falar um pouco mais tarde mas entendem desde cedo as duas línguas. Têm de processar diferentes sons linguísticos para formar as palavras e construir frases. No entanto quando começam a falar fazem-no nas duas línguas e sabem qual a que devem utilizar dependendo do progenitor a quem se dirigem. É aconselhável que cada um dos pais fale sempre a mesma língua com a criança para que esta não fique confusa.

Para mim