segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Elas chegaram agora junto de ti...



Elas chegaram agora junto de ti.

Elas pensavam que o mundo cabia inteiro nas paredes da sua casa, e que quem lá vivia eram os seus únicos habitantes. Terás de mostrar-lhes que não é verdade .

Elas têm poucas palavras para nomear o que as rodeia. Terás de as ajudar a encontrar as que faltam.

Elas vão ver o mundo com as cores que tu puseres em cada som e em cada gesto.

Elas vão olhar para ti, aprender o teu nome, chamar-te por tudo e por nada, geralmente por nada. Que é sempre tudo.

Vais mostrar-lhes como se vive com os outros, como se aceita quem não é igual a nós, tal como se aceita um desenho pintado com todas as cores do arco-íris.

Vais aprender a que ter de lhes dizer muitas vezes “não”, sem te deixares levar pelo seu beicinho irresistível.

Mas vais também dizer-lhes muitas vezes “sim” e sentir que é para ti que elas sorriem e estendem as mãos.

Vais levá-las ao jardim quando há sol, vais empurrar baloiços que chegam ao céu, vais assoar narizes cem vezes ao dia, vais fazê-las aprender a gostar de sopa, vais ler-lhes histórias e ensinar-lhes que todas as meninas têm direito a ser princesas e todos os meninos têm direito de ser piratas das Caraíbas.

Elas levam-te nos olhos quando à tarde as vêm buscar. E esperas que te levem também no coração.

Elas vão acreditar em ti como acreditam nas fadas e no Pai Natal.

Elas vão pôr-te os nervos à flor da pele e fazer-te esquecer, por vezes, o que aprendeste, e perder a paciência que sempre julgaste inesgotável.

Elas vão-te fazer suspirar pela hora de regresso a casa, vão fazer-te levar muitas vezes as mãos à cabeça e proferir intimamente palavras impronunciáveis. Porque elas são crianças. E porque tu és humana.

Resumindo: Elas vão fazer-te feliz para o resto da tua vida.

Alice Vieira